o grande nada

Pensamentos, confissões, teorias, dia-a-dia. Palavras palavras palavras. E o que mais...? Só. No fundo é só isso e mais nada. O que significa?

Saturday, February 21, 2004

Conversa com um velho bêbado no pagode do posto (sem comentários):

- Posso te fazer uma pergunta?
- O que??
- Posso te fazer uma pergunta?
- Hã... pode.
- Você tem certeza?
- Por que?
- Mas eu posso te fazer essa pergunta?
- Pode sim.
- A sua família é religiosa?
- Não.
- Você é religiosa?
- Não.
- Você freqüenta alguma igreja?
- Não.
- Você é religiosa?
- Não.
(.... silêncio, ele me olha sério, fixamente.....)
- Você vai ser evangélica (apontando para mim)
- Por que?
- Você vai ser evangélica (com um ar muito certo de si e dessa tal certeza, com o dedo quase no meu rosto)
- Hum... tá....
- Você vai ser evangélica.
- Tá bom então.
(daí ele foi brigar com a Mariana porque ela mandou ele ir com Deus)

Fico me perguntando o que se passava na cabeça dele...

Sunday, February 15, 2004

Crítica filosófica a partir de um bom-bril numa antena de televisão:

Estava eu lá, levemente alterada, devo assumir, mas lúcida. Entrei na cozinha e tive uma visão, um insight do mundo. Captei a beleza escondida e ao mesmo tempo tão óbvia da vida cotidiana, de uma cozinha normal. Fiquei extasiada com a simplicidade dos azulejos, do relógio com os pássaros no lugar das horas, das frutas de cera, da televisão de '91 com bom-bril na antena, do quadro de natureza morta e do pacote de bolacha que deveria estar no lixo, mas reinava sobre um prato sujo na pia. Foi um momento sublime.

Daí me empolguei! Percebi que aquela era a beleza real, a da simplicidade da vida cotidiana de classe média. Aquela cozinha, e não a pré-fabricada, irreal, toda branca, irritantemente limpa e metida a americana, era a verdade. As cozinhas americanas, junto com os joguinhos americanos, não. O bom mesmo é o copinho americano, aquele de boteco, pra servir uma dose pra começar o dia. E o problema estava na mídia, na minha cabeça, na segunda meia-noite de um dia muito animado. A mídia, gesticulava eu, era quem controlava o que é "socialmente aceito" ou "belo": ela estabelecia os padrões, as tendências, as normas. Mas ao mesmo tempo ela era a porta-voz da sociedade. Uma relação de troca, de patrão e empregado ao mesmo tempo.

A minha platéia, constituída por um cabeludo e barbudo comendo farofa num prato duralex, outro cabeludo e dono da casa (de quem eu senti uma pontinha de orgulho pelos constantes elogios à sua cozinha), outro cabeludo que aparenta ter 14 anos e na verdade tem 18, e outro com cara de 12 que tem 17, mostrou-se bem receptiva às minhas idéias. Certo, alguns riram, mas no geral me apoiaram enfaticamente, provavelmente envolvidos pela paixão que embalou meus argumentos.

Une bonne soirrée.
Dúvida sobre a existência:

O QUE É ELA?

Aguardarei ansiosa pela resposta que só virá com os anos.
Não gostei desse momento. Ou melhor, não gosto, porque ele está durando muito mais do que o preciso. E já durou demais. É um momento imutável e intransponível que me condena à posição de prisioneira de minhas reflexões burras, burras e burras. Sinto-me vazia. Sinto vazio. Vazio. Nào sinto mais. Aperta aqui dentro, ó! Tá vendo? Ruim...

As pessoas podem ser maravilhosas e simples e quentes. Calorosas. E depois podem ser irritantemente independentes, diferentes e distantes. As mesmas pessoas com as mesmas ações podem mudar completamente na minha cabeça e nos meus sentidos em questão de segundos. De um pensamento para o outro. De um sussurro para o outro.

Sussurros... lindo isso!

Mas pelo lado positivo, posso dizer que amei as pessoas. Não uma pessoa em especial, e sim as pessoas no geral. Amei elas de verdade, vi a beleza dos detalhes reais, abracei o meu mundinho e sonhei e ri e falei e rodopiei em mim mesma. Foi verdadeiramente bonito de se sentir.

O problema é o agora. Agora o mundo virou preto-e-branco, como a televisão do bom-bril na antena, real demais e perdeu a mágica. As pessoas, ao invés de me completarem, me sufocam, mas a ausência delas também não ajuda. O que ser isso?

Síndromes e psicoses minhas.

Tuesday, February 10, 2004

Bobeiras de férias: nós andando na praia, felizes da vida. Por algum motivo inexplicável, a gente tende a se divertir muito andando na praia juntas. Lembro ainda com saudades daquela vez da tempestade, nós bobas pra cacete, correndo, a areia batendo com força na perna, tendo a brilhante idéia de andar um pouco mais. Não dava pra ver um palmo à nossa frente, mas a gente correndo, molhadas e rindo sem parar. Até admitirmos que talvez não fosse a melhor das idéias...
Mas como eu dizia, esse verão a gente foi andar pro outro lado da praia. Emocionante, descobrimos um possível apelido revelador do cara, colocamos a patinha nas pedras (é como que um recibo que prova que chegamos, de fato, até a ponta da praia), pulamos riozinhos de procedência duvidável e tudo! Daí veio o momento saudosista da pré-adolescência brega: musiquinhas do começo da carreira do Charlie Brown invadiram nossas mentes, e não havia muito o que fazer senão cantarolar uns refrões. Mas percebemos que lembrávamos mais do que refrões. Até os "yeah" do Chorão a gente sabia... Bizarríssimo, se quer saber! Mas agora deu vontade de lembrar de uma, que falava da marca da fogueira, não sei direito... engraçado tudo isso!