Crítica filosófica a partir de um bom-bril numa antena de televisão:
Estava eu lá, levemente alterada, devo assumir, mas lúcida. Entrei na cozinha e tive uma visão, um insight do mundo. Captei a beleza escondida e ao mesmo tempo tão óbvia da vida cotidiana, de uma cozinha normal. Fiquei extasiada com a simplicidade dos azulejos, do relógio com os pássaros no lugar das horas, das frutas de cera, da televisão de '91 com bom-bril na antena, do quadro de natureza morta e do pacote de bolacha que deveria estar no lixo, mas reinava sobre um prato sujo na pia. Foi um momento sublime.
Daí me empolguei! Percebi que aquela era a beleza real, a da simplicidade da vida cotidiana de classe média. Aquela cozinha, e não a pré-fabricada, irreal, toda branca, irritantemente limpa e metida a americana, era a verdade. As cozinhas americanas, junto com os joguinhos americanos, não. O bom mesmo é o copinho americano, aquele de boteco, pra servir uma dose pra começar o dia. E o problema estava na mídia, na minha cabeça, na segunda meia-noite de um dia muito animado. A mídia, gesticulava eu, era quem controlava o que é "socialmente aceito" ou "belo": ela estabelecia os padrões, as tendências, as normas. Mas ao mesmo tempo ela era a porta-voz da sociedade. Uma relação de troca, de patrão e empregado ao mesmo tempo.
A minha platéia, constituída por um cabeludo e barbudo comendo farofa num prato duralex, outro cabeludo e dono da casa (de quem eu senti uma pontinha de orgulho pelos constantes elogios à sua cozinha), outro cabeludo que aparenta ter 14 anos e na verdade tem 18, e outro com cara de 12 que tem 17, mostrou-se bem receptiva às minhas idéias. Certo, alguns riram, mas no geral me apoiaram enfaticamente, provavelmente envolvidos pela paixão que embalou meus argumentos.
Une bonne soirrée.
Estava eu lá, levemente alterada, devo assumir, mas lúcida. Entrei na cozinha e tive uma visão, um insight do mundo. Captei a beleza escondida e ao mesmo tempo tão óbvia da vida cotidiana, de uma cozinha normal. Fiquei extasiada com a simplicidade dos azulejos, do relógio com os pássaros no lugar das horas, das frutas de cera, da televisão de '91 com bom-bril na antena, do quadro de natureza morta e do pacote de bolacha que deveria estar no lixo, mas reinava sobre um prato sujo na pia. Foi um momento sublime.
Daí me empolguei! Percebi que aquela era a beleza real, a da simplicidade da vida cotidiana de classe média. Aquela cozinha, e não a pré-fabricada, irreal, toda branca, irritantemente limpa e metida a americana, era a verdade. As cozinhas americanas, junto com os joguinhos americanos, não. O bom mesmo é o copinho americano, aquele de boteco, pra servir uma dose pra começar o dia. E o problema estava na mídia, na minha cabeça, na segunda meia-noite de um dia muito animado. A mídia, gesticulava eu, era quem controlava o que é "socialmente aceito" ou "belo": ela estabelecia os padrões, as tendências, as normas. Mas ao mesmo tempo ela era a porta-voz da sociedade. Uma relação de troca, de patrão e empregado ao mesmo tempo.
A minha platéia, constituída por um cabeludo e barbudo comendo farofa num prato duralex, outro cabeludo e dono da casa (de quem eu senti uma pontinha de orgulho pelos constantes elogios à sua cozinha), outro cabeludo que aparenta ter 14 anos e na verdade tem 18, e outro com cara de 12 que tem 17, mostrou-se bem receptiva às minhas idéias. Certo, alguns riram, mas no geral me apoiaram enfaticamente, provavelmente envolvidos pela paixão que embalou meus argumentos.
Une bonne soirrée.
0 que foi?
Post a Comment
<< Home