o grande nada

Pensamentos, confissões, teorias, dia-a-dia. Palavras palavras palavras. E o que mais...? Só. No fundo é só isso e mais nada. O que significa?

Saturday, March 27, 2004

Invasões, desinvasões, amigos, inimigos... é, a vida tem sido bem emocionante ultimamente. Nada mais a declarar, por enquanto.

Sunday, March 21, 2004

Outro dia eu me apaixonei.

Foi o momento mais puro e lindo da minha vida nos últimos meses, e isso me fez repensar tudo. Percebi que não sinto mais muita coisa, que o mundo não deixa, e isso não pode ser considerado uma vida. Trânsito, ônibus, São Paulo e faculdade de segunda a sexta, com direito a uma pausa de meia hora na quinta para sentimentos. E o fim-de-semana para sair mais e encontrar outras pessoas fugindo de segunda a sexta.

Quero ficar presa àquela meia hora para sempre e viver com o coração cheio de tantas coisas a toda hora.

Ele entrou no ônibus, lá pelo km 14, não lembro direito. Entrou com uma menina, supus que estivessem juntos então não reparei muito. Notei, porém, enquanto ele pagava pela passagem, que era alto, se vestia bem e que era meio atrapalhado. Passou pela catraca. O ônibus ainda estava vazio. Ele sentou do meu lado, no primeiro banco, sem ao menos olhar direito para os outros lugares. Eu, com a mão no assento vazio, dei espaço para ele sentar quando se aproximou, mas não pude evitar a cara de boba distraída que fiz quando ele me olhou. Rimos. Ele sentou. E não estava com a menina.

A viagem foi curta, 9 km na Raposo, no máximo, mas foi atemporal. O tempo não se moveu, nem os carros ao nosso redor, nem a estrada lá fora. Melhor: a estrada, os carros e as pessoas se moviam, mas não fazia muita importância, porque era como se o tempo em si tivesse parado. Sentada ao lado dele, eu sentia. O seu perfume, o leve calor que emanava de seu corpo, aquela ânsia que brotava dentro de mim e que me inflava até o ponto que me dava a impressão de que eu não aguentaria mais e explodiria em mil pedaços aqui dentro. Eu levitava internamente a cada olhar tímido que ele dava em minha direção, daqueles de canto de olho, e ao mesmo tempo desviava com vergonha a cada vez que nossos olhos quase se encontravam no espaço. Foi um jogo de olhares extremamente pueril e engraçado para o espectador inexistente. Seus olhos azuis tinham uma forma única, ao mesmo tempo puxados e escondidos, moldados sob sobrancelhas protetoras e serenas e acompanhados de uma pinta tão ela-só que só ela. As mãos largas mexiam distraidamente no fecho da mochila preta, combinando com a roupa social. A mochila e a roupa social preta só combinavam porque estavam nele. Ele combinava. Era alto e de cabelos claros e curtos e com gel, e a roupa preta social e a mochila e os olhos azuis e o jeito tímido mas confiante e eu seriam uma ótima combinação, eu juro!

Como a vida é uma criança sarcástica que adora brincar comigo, o meu ponto chegou. Olhei pra ele, pedi licença e ele respondeu "toda", num tempo levemente mais rápido do que o normal e se encolheu para que eu passasse. Fui para o fundo do ônibus, de onde fiquei olhando para ele ao esperar para descer. Ele não olhou para trás, mas também não sentou no meu lugar, para que fosse mais fácil para alguém se sentar ao lado dele. Ele sorriu e eu sorri, e foi assim que não o vi mais.
Acho que o problema é que eu quero mais. Mais que isso tudo. Faculdade, emprego, dinheiro, celular, roupa nova, cabelo, boate, carro, televisão, shopping center, jornal de domingo, computador, chaves, homens na rua, pessoas no geral. Só não to vendo o sentido nisso tudo.

Thursday, March 18, 2004

Uma conversinha que eu tive outro dia:

Maikel: ola
D: oi
M: td bem?
D: tudo, e vc?
M: td... daria td para ver uma foto sua sabia. eu tenho certeza q vc é gatinha
D: blah
M: q?
D: nada
M: curte fazer oq?
D: ir à igreja, ler livros e enciclopédias, costurar, cuidar dos meus irmãos mais novos e cozinhar. e vc?
M: ta falando sério?
D: to, pq?
M: nada nao... Nunca ninguem me falou isso antes
D: e isso ? ruim?
M: é péssimo... rs
D: sério???
M: nossa.... parece q estou falando com uma pessoa do século 19
D: ah, vc diz isso por preconceito. se vc fosse pra minha igreja, ou se soubesse como é gratificante cuidar do próximo, vc nao falaria assim
M: pode ser. Mas é que eu vivo em um mundo completamente oposto do seu. Respeito oq vc pensa. nao falei por mau. Desculpa
D: tudo bem.
D: mas vc nao falou, como é o seu mundo?
M: me desculpa... tenho q ir p/ facul agora. amanho estou online nesse horario... ai a gente conversa mais
D: ta bom, tchau

E a gente conversou no dia seguinte! Hilário...

Friday, March 05, 2004

Acho incrível observar a comoção das pessoas em shows. Eu mesma já derramei algumas lágrimas em algumas músicas, mas isso foi em músicas intensas, de jazz, sentada numa platéia, viajando numa parte instrumental.

Mas tem gente que chora em show de rock, no meio da muvuca, ao som de algum single que provavelmente traz a lembrança do ex-namorado com mau-gosto musical, ou daquela dança, ou da festa de sei-lá-quem... enfim, tem gente que não tem vergonha na cara mesmo!

Eu gosto muito de Los Hermanos. Acho que é uma banda séria, que inovou muito no cenário musical brasileiro, consegue unir o bom da MPB a vários ritmos novos, junto a letras brilhantemente cotidianas e um quê retrô. Mas eu duvido muito que conseguisse chorar num show deles. Tem um clipe, acho que é de "O Vencedor", que mostra a platéia num show deles. E é lindo... a emoção das pessoas, que sabem todas as músicas de cor, ou se não sabem, chutam alguma coisa, mas com a maior empolgação. Tem o cara que fica de olhos fechados balançando a cabeça, o casal apaixonado se abraçando e cantando, a mulher que fica mexendo o braço acompanhando a bateria, e a outra nos ombros de alguém com o guarda-chuvas. É bonito ver isso.

Então... hoje vi isso de perto, num mini-show dos caras na Fnac. Gente muito muito engraçada. A tal nata cultural jovem da Vila Madalena, sabe? Nada contra, mas acho hilário olhar pra pessoas que se acham muito únicas e diferentes todas juntas, e que assim acabam não passando de um estilinho, assim como as patricinhas e os clubbers e os rappers e os punks. heh...

Bom, mas o que captou a minha atenção de verdade foi a emoção de um cara que tava sentado na platéia. Eu cheguei uma hora e meia antes, e fiquei lá fora sem ver quase nada, então o cara deve ter chegado no mínimo 2 horas e meia antes pra conseguir aquele lugar. Mas dá pra entender, porque, afinal, era de graça... O cara da platéia: tava sentado, usava a barba e o cabelo iguais aos da banda (o que não era raro no pessoal de lá) e tava cantando de olhos fechados, meio que dançando com a cabeça e os braços, sabia cada batida de cada música e dava pra ver que aquilo era mágico pra ele. Foi quando ele enxugou algumas lágrimas, em meio a "Sentimental", parece que eu fui a única a notar, e foi lindo por causa disso. Não importava a banda lá na frente, as pessoas pulando, o lugar pequeno fechado e superlotado e nem o mundo lá fora. O importante era aquele momento pra ele, a música, a sensação de estar lá e de se sentir vivo.

Foi bonito, apesar de estranho.